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30/Dezembro/2021

Desafios das fintechs para 2022

Desafios das fintechs para 2022

Olhando para novas fronteiras que devem começar a receber mais atenção daqui para a frente no país, encontramos as sustainable fintechs e green fintechs, subsegmentos sobre as quais escrevi a respeito em 2021 e que desenvolvem negócios alinhados com as premissas ESG (ligadas ao meio ambiente, social e governança) que gerem impacto positivo na sociedade. Nesse amplo espectro, encontramos iniciativas relacionadas ao financiamento de projetos de energia solar (como a Solfácil e a Insole), voltadas para o mercado de crédito de carbono (como a Moss.earth) e até soluções play-to-earn de conservação florestal onde os NFTs utilizadas em seu metaverso são ligados a ativos florestais reais (proposta da startup Invert). As agrifintechs, que no Brasil costumam estar bem alinhadas às práticas sustentáveis, também prometem surpreender. Esse subsegmento está inserido dentro de um dos mais importantes setores do país (o agro) e é um oceano azul de oportunidades no qual já vemos algumas fintechs despontando, vide a Nagro, DuAgro, A de Agro, Agryo, Terramagna, Traive, dentre outras.

 

Fintechs com atuação em segmentos menos sexy, como back-office e automação financeira devem ganhar espaço ao solucionar dores relacionadas à complexidade e alto custo incorrido pelas empresas para realizar tais atividades com qualidade. Nesse mercado, encontramos as novatas BHub, Celero e Manda pro Financeiro, com foco em PMEs e Startups, e a Vórtex, focada no back-office de gestoras de investimentos, bancos e outras fintechs.

 

Outra tendência que merece bastante atenção é a diminuição da distância entre o mundo cripto e o mercado financeiro tradicional – e vemos cada vez mais fintechs endereçando esse tema. Como sabemos, os criptoativos não são novidade e sua relevância tem crescido ano após ano, mas as condições reunidas atualmente estão criando um momento único que pode representar uma virada de chave para o subsegmento, ampliando o seu alcance para um número ainda maior de brasileiros. Dentre os vários sinais já visíveis desta mudança, destaco a atenção despendida pelo governo e os reguladores em relação ao tema (com projetos de regulamentação do setor tramitando no congresso, o desenvolvimento do Real Digital e o ingresso de fintechs alinhadas ao tema nos Sandboxes do BC e da CVM), os avanços de grandes players no desenvolvimento de soluções voltadas para o ecossistema cripto (como B3, Visa e Mastercard), o crescimento de iniciativas voltadas para finanças descentralizadas (DeFi) e o surgimento de 2 unicórnios brasileiros que desenvolvem negócios nesse setor (o Grupo 2TM, dono da startup Mercado Bitcoin, e a fintech de pagamentos Cloudwalk, que utiliza tecnologia Blockchain).

 

Além das corretoras de criptomoedas (formato mais popular de iniciativa no setor), vemos o desenvolvimento de um amplo ecossistema de soluções composto por gestoras (como a QR Capital e Hashdex), casas de research (como a Paradigma Education e a Convex Research) e provedores de serviços de custódia, trading e infraestrutura para o mercado (como a Parfin e a Bitrust, do grupo 2TM), dentre outros – todos representando um terreno fértil para novos negócios. Há, contudo, uma atividade ainda pouco explorada nesse subsegmento que vejo com bastante potencial para 2022 no país – o Crypto as a Service. Esse modelo é similar ao Banking as a Service e trata-se de possibilitar que diferentes companhias possam dar aos seus clientes acesso ao mundo dos criptoativos (de modo direto ou indireto). Internacionalmente um dos players mais bem sucedidos nesse mercado é a Paxos, que é a empresa que provê a infraestrutura necessária para o Paypal e o Mercado Livre atuarem neste mercado. Por aqui, a corretora Foxbit lançou uma unidade B2B para atuar no segmento, habilitando a 99 (da empresa de mobilidade chinesa Didi Chuxing) a mergulhar no mundo cripto. Esse é um grande negócio que está atraindo diferentes startups que já atuam no mercado cripto (desde corretoras até provedores de wallets) e empresas que atuam com Banking as a Service e buscam expandir seu portfólio de ofertas (a Dock já sinalizou que está montando uma área dedicada ao setor). Acredito que movimentos mais intensos de investimentos e operações de M&A devem acontecer neste setor em 2022.

 

Maior competição, internacionalização e reação dos incumbentes


Investidores e empreendedores de todo o mundo já perceberam que o mercado brasileiro está se tornando estratégico demais para ignorar. Assim, presenciamos a incursão cada vez maior de novos investidores no país, bem como um aumento no número de startups vindas de várias partes do mundo buscando participar desta verdadeira “corrida do ouro” digital. Esse movimento certamente será intensificado em 2022, aumentando a concorrência em vários subsegmentos. Já algumas fintechs brasileiras, que receberam grandes rodadas de investimentos, deverão acelerar seu processo de internacionalização.

Somado a esse cenário competitivo, prevejo movimentos mais agressivos por parte dos incumbentes, tanto em seu discurso em prol de isonomia regulatória no setor financeiro quanto em seu processo de transformação para esse novo campo de batalha.

Estou confiante de que veremos um ano de crescimento intenso e de acelerada evolução do mercado financeiro brasileiro. Espero que tenhamos surpresas tão boas quanto as que tivemos no balanço de 2020 para 2021 – e as perspectivas para que isso de fato aconteça não poderiam ser melhores.

 

Fonte:Exame